Em junho deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a intenção de ampliar o renomado programa “Minha Casa, Minha Vida” para incluir famílias com renda mensal de até R$ 12 mil. No entanto, essa promessa, que ganhou destaque durante uma live ao lado do ministro das Cidades, Jader Filho, permanece estagnada no governo, sem perspectivas de sair do papel a curto prazo.
O programa, lançado em 2009 durante as gestões petistas, tornou-se uma das principais bandeiras do Partido dos Trabalhadores (PT) e impulsionou a candidatura de Dilma Rousseff. Financiado pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o “Minha Casa, Minha Vida” ofereceu condições favoráveis de financiamento e descontos para famílias de baixa renda, tornando o sonho da casa própria mais acessível.
No entanto, a verba do FGTS enfrenta desafios consideráveis, colocando em xeque a expansão do programa. Com mudanças propostas no saque-aniversário e na taxa de remuneração do Fundo, o orçamento do FGTS enfrenta pressões tanto do Ministério do Trabalho quanto do Supremo Tribunal Federal (STF), o que levanta questionamentos sobre sua capacidade de suportar uma nova faixa de renda.
Os técnicos do governo apontam que, para atender a classe média com uma faixa de renda de até R$ 12 mil, seria necessário elevar não apenas o limite de renda, mas também o valor máximo do imóvel, possivelmente para R$ 500 mil. No entanto, surge a dúvida se o FGTS conseguirá suportar essa ampliação diante das pressões que o Fundo enfrenta.
Uma dessas pressões é a proposta do Ministério do Trabalho de mudar a regra do saque-aniversário, permitindo a retirada do saldo remanescente da conta de quem aderiu a essa modalidade. Estima-se que essa mudança poderia retirar bilhões do FGTS, comprometendo ainda mais o orçamento disponível para o programa habitacional.
Outra pressão significativa vem do STF, que analisa a possibilidade de remunerar as contas do FGTS pelo mesmo índice usado na poupança. Caso essa mudança seja implementada, estima-se um impacto fiscal considerável, afetando as finanças do “Minha Casa, Minha Vida” e limitando a contratação de habitações.
Além das questões financeiras, há uma preocupação com a mensagem contraditória que a ampliação do programa poderia enviar neste momento de incertezas. A indefinição no Judiciário sobre assuntos que impactam as contas do Ministério das Cidades poderia tornar a expansão do programa uma decisão desfavorável no cenário atual.
Diante desse contexto, a votação do orçamento do FGTS para 2024 está atrasada, e a discussão sobre a ampliação do “Minha Casa, Minha Vida” permanece em aberto. Com a meta do governo de fechar o ano com 450 mil contratações e atingir dois milhões de unidades até 2026, a pressão sobre o orçamento do FGTS torna-se cada vez mais evidente.
O Ministério das Cidades ressaltou, em nota, que a classe média já é contemplada pelo programa nas faixas 2 e 3, atendendo famílias com renda até R$ 4,4 mil e R$ 8 mil, respectivamente. Quanto à proposta de elevar a renda familiar da faixa 3 para até R$ 12 mil, o assunto continua em estudo na pasta. Com a reunião do Conselho Curador do Fundo marcada para o próximo dia 28, a definição sobre o futuro do “Minha Casa, Minha Vida” aguarda desdobramentos.
Fonte: O Globo