Empréstimos que têm imóveis como garantia, operação conhecida como home equity, tiveram alta de 45% nas contratações no acumulado do ano até maio em comparação com o mesmo período de 2019, segundo dados do Banco Central. O número de contratos no país ainda é considerado baixo: menos de 100 mil, envolvendo R$ 11 bilhões.
Com o relançamento do programa da Caixa Econômica Federal no início do mês, bancos e startups que atuam neste mercado apostam agora na popularização da modalidade por causa da principal vantagem: juros mais baixos e prazo longo para pagar, de até 20 anos em algumas instituições.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse em um evento recente que o crescimento do home equity ainda está abaixo do potencial, que ele avalia ser de R$ 500 bilhões nos próximos anos. Com a taxa básica de juros (Selic) em 2%, patamar histórico mais baixo, os empréstimos garantidos por imóveis estão na casa de 10% ao ano segundo o BC.
O tomador pode pegar emprestado o equivalente a 60% do valor do imóvel, mas, se não pagar, perde o bem para o banco. E aí mora o principal risco. Em caso de inadimplência, depois de todas as fases de negociação, o processo é rápido. Por lei, 15 dias após a notificação de um oficial de cartório para a regularização da pendência, o banco pode executar a dívida e tomar o imóvel.
Dados do BC mostram que a inadimplência (mais de três prestações em atraso) no home equity foi de 5,2% em maio, bem acima do 1,34% no Sistema Financeiro da Habitação (SFH).
Durante a pandemia, muitos pequenos empresários usaram esse recurso como pessoa física para obter crédito para suas empresas em dificuldades. Rodolfo Rodrigues, que tem uma empresa de obras em condomínios em São Paulo, viu todos os seus projetos paralisados pela quarentena. Ele usou o home equity para o capital de giro que não conseguiu nas linhas tradicionais.
- Os bancos divulgam que é fácil pegar crédito, mas, quando precisamos, a realidade não é essa. Nem o banco que eu tenho relacionamento me respondeu - diz o empresário, que conseguiu em poucos dias um home equity por meio de uma start-up depois de ver um anúncio em uma rede social.
Fintechs x bancos
A comunicação digital, a agilidade no processamento das operações e liberação dos recursos têm favorecido as fintechs na disputa com os bancos. Na Caixa, por exemplo, o cliente tem que ir à agência para fechar o contrato. Nas startups financeiras, é tudo on-line.
- Embora seja uma modalidade pouco disseminada no Brasil, tem se tornado a forma mais inteligente de buscar crédito. Gradualmente, cada vez mais pequenos e médios negócios vão enxergar no home equity uma forma segura de conseguir recursos para quitar dívidas ou realizar um investimento - diz Paulo Gonçalves, co-fundador da CashMe, fintech da construtora Cyrella.
O gerente administrativo Bruno Costa decidiu tomar um empréstimo do tipo para mobiliar um dos seus apartamentos. Com o dinheiro na mão, conseguiu negociar descontos com as lojas à vista.
- O aluguel de um apartamento mobiliado é mais alto que o de um vazio. Mesmo nesta crise, consegui um inquilino em menos de três dias. Uso o aluguel para pagar as parcelas. Minha intenção é quitar em menos de um ano.
A Loft, start-up de compra e venda de imóveis, também faz a intermediação entre clientes e fintechs especializadas. Fechou 55 contratos de home equity entre junho e julho. A maioria para empreendedores atingidos pela crise do coronavírus em busca de capital de giro, conta Raphael Tomé, diretor de Negócios e Vendas da empresa:
- Procuramos as melhores condições para o cliente. Se não for aprovado em uma instituição parceira, partimos para outra.
Na disputa com as startups, os bancos tentam acelerar os processos. No Santander, toda a operação é feita de forma digital. O cliente vai à agência só para assinar o contrato. De acordo com Sandro Gamba, diretor de Negócios Imobiliários do banco, a demanda aumentou 120% entre janeiro e maio.
Ele avalia que a entrada da Caixa acirrou a concorrência, o que deve contribuir para a queda das taxas. O diretor de Crédito Imobiliário do Bradesco, Romero Gomes de Albuquerque, observa que a regulamentação do BC de empréstimos garantidos por imóveis ainda em financiamento, em estudo pelas instituições, deve gerar uma demanda adicional.
- É preciso avaliar bem antes de colocar um imóvel como garantia para uma modalidade de crédito, mesmo com taxas menores. Não faz sentido por questões supérfluas. Deve ser usado, por exemplo, para trocar uma dívida muito cara por outra com taxa inferior - alerta Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do Ibre/FGV.
Tomé, da Loft, observa que não interessa a bancos e fintechs tomar imóveis:
- Só aprovamos a operação se fizer sentido.
Fonte: https://www.ademi.org.br/article.php3?id_article=79925
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