Estádio no Centro de São Paulo - por Antônio Carlos Porto Araújo
Publicado em 02 de Julho de 2010
Os eventos esportivos mundiais são um espetáculo fascinante: reúnem os melhores atletas de diferentes países, atraem um público vasto e funcionam como vitrine para as belezas (naturais, históricas, artísticas) da nação anfitriã, além de ressaltar o poder de organização de seus dirigentes e a hospitalidade de seu povo.
Por todas essas características, os grandes acontecimentos sempre foram objetos de desejo para os países. Sediar uma Copa do Mundo ou uma Olimpíada é uma chance valiosa para angariar investimentos, atrair turistas e ganhar evidência.
Porém, em um mundo cada vez mais atento às questões ambientais, já não é tão simples construir um novo estádio ou criar infraestrutura necessária para comportar um evento de dimensão mundial. A preocupação com os impactos das atividades humanas sobre a natureza tem obrigado os arquitetos a elaborar projetos sustentáveis, que tenham viabilidade ambiental e econômica comprovada.
O desafio de atender às novas exigências é enorme, mas nem por isso as cidades mais importantes do mundo abriram mão do direito de abrigar as Olimpíadas de 2016. E, para demonstrar que estarão aptas a acolher a mais célebre das competições, as concorrentes previram investimentos de bilhões de dólares em infraestrutura.
Em meio a esse acalorado debate, vencido pelo Rio de Janeiro, um murmúrio persistente se vez ouvir nos bastidores brasileiros: as nossas cidades estariam aptas a dar conta de um evento internacional? Será que, até a data dos jogos, conseguiríamos efetuar as melhorias necessárias em nossos aeroportos e meios de transporte urbanos, sistema de segurança pública, infraestrutura hoteleira etc.?
Além destas questões, surgem outras: a cidade de São Paulo, por exemplo, discute a conveniência de construir, para a Copa de 2014, um novo estádio de futebol, em Pirituba, conforme noticiado como intenção da prefeitura de São Paulo.
Nesse sentido, é permitido aventar outra hipótese, com vistas a comportar não apenas os jogos de futebol, mas também outras atrações.
A ideia seria construir uma arena multiuso, ampla e inteligentemente estruturada, com um caráter versátil que permitiria seu uso intenso por todos os setores da sociedade, para shows esportivos, artísticos e culturais. A cidade de São Paulo precisa de um novo estádio onde se pratique mais esporte verde. Uma nova arena multiuso, onde se apresentem como fundamento dos entretenimentos a responsabilidade social e ambiental.
Muito mais interessante do que em Pirituba, o lugar ideal para a construção desse grande complexo, com aproximadamente 300 mil metros quadrados de área, seria a região hoje apelidada de "Cracolândia", que, assolada pelo tráfico de drogas, tornou-se um triste símbolo da degradação do centro de São Paulo.
A região dispõe de localização privilegiada e ótima acessibilidade, com integração rápida e intermodal (trem, ônibus, metrô), e fica próxima da futura parada do trem-bala que ligará Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. Isso representa atender um dos maiores requisitos, que é, sobretudo, viabilizar o sistema de mobilidade urbana até o local.
O atendimento a essa questão de mobilidade deve representar a mitigação de emissão de milhões de toneladas de CO2 não só para o evento Copa, mas durante toda a vida útil da nova arena multiuso, com megaeventos esportivos e de entretenimento.
Seu entorno é bem servido de hotéis e restaurantes, e um projeto de excelente potencial turístico motivaria os empresários do ramo a inaugurar e expandir estabelecimentos na região.
O aproveitamento da área resultaria em inúmeras vantagens, mas a principal delas, certamente, é a revitalização de um ponto importante da cidade. O peso simbólico da vitória da saúde sobre as drogas, da cidadania sobre a marginalidade, faria um enorme bem à autoestima dos brasileiros e fortaleceria a nossa certeza de que a redenção é possível - basta haver planejamento e disposição para agir e transformar!
* Antonio Carlos Porto Araujo é consultor da área de sustentabilidade da Trevisan.
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